-a estabilidade pode ser a forma mais cruel de viver. não se achar no direito de ser feliz ou realizar alguma coisa com êxito se transforma no caos de uma vida inteira - pensou ela.
-por que? - perguntou ELA
-talvez a vida não tenha ofertado nada, desde o início, para que pudesse nao fazê-lo. e como se qualquer coisa que pudesse oferecer um raio de luz ofuscasse como uma grande lanterna e se perde a noção de tudo.
-eu não sei como fazer, eu tô fazendo tudo errado, não era pra ser assim. não faz isso comigo, eu te amo. - foi ELA quem disse
-e acho que não sabe, tenho quase certeza que não sabe mesmo. tudo sempre, desde o nosso primeiro dia semeado para que as coisas fossem mais fáceis, transparentes e, acima de tudo, diferentes do que fora até agora. - ela
e assim foi até o dia em que foi tanta luz que tomou conta da relação sólida e respeitada delas duas. ela não sabia o que acontecia, inebriada,confiante e entregue nos planos feitos para uma vida a duas e lutando para que se tornasse mais realidade as três pessoas que ali existiam: ela, ELA e as duas. ELA, pro outro lado, se vendo crescer pelo andar da vida de alguns anos - poucos ainda, os primeiros dos que seriam os seguintes - preferiu recomecar, muito provavelmente de um lugar mais abaixo de onde comecou o namoro.
a questão é que ela, a que amava e se sentia segura na relação para compartilhar os benditos juramentos `na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...` não imaginava o que ainda é ou era o que se passava na cabeça de ELA. sim, na cabeça porque o que aconteceu nao pode ter vindo do coração.
ELA: eu passei a ter ciúmes de você, coisa que eu não tinha! não me reconheço.
ela: eu passei a sentir tantas coisas que não conhecia e não me reconheci. tantas coisas que me fizeram ver que fiquei diferente, mas que fazem parte da vida. e você faz parte dela.
ELA sente, ama, gosta, mas tenta medir o amor, esse que é tão imensurável e traído pela suposta medição.
ela: sabe o que eu mais senti? o porquinho quebrado, com nossas gordas moedas de 1,00 e 0,50 para abrirmos no final de ano, como combinamos no ano novo do ano passado. era apena um real por dia de comida pra ele pra que a gente pudesse ter, ao menos, R$365,00.
ELA: por que voce fez isso? nao era pra ser assim...
ela: mas não sou eu que estou fazendo, ELA. por favor, o que eu faço? amo...
ELA chorava, mas ao mesmo tempo não fazia nada que pudesse dar a ela alguma posição. ela pegou as bolsas que ELA havia separado.
ela: eu digo pra todas as partes do seu corpo terem a certeza e falarem enquanto dorme as coisas que so nos duas sabemos, quando estamos felizes e bem e quando estamos tristes e precisando uma da outra, pra todos os seus poros esclarecerem que ainda tem muito mais por vir, comigo.
ELA: eles falam comigo, todas as noites!
e ainda permaneceu imóvel quanto a uma decisão de sim ou de não.
ELA: não se despeça assim, isso não é o final.
ela entende o que se passa com ELA, mas não concorda que deveria ser assim. existem mais duas ali que estão sendo banidas.
Elas se beijaram e se amaram com tanta força que parecia que ela não ia resistir. saiu com as inúmeras bolsas que estavam no canto sala que elas pintaram, aos pés da mesa que escolheram para a sala logo no corredor que misturaram duas tintas pra fazer uma cor que não existe e deu de cara na porta com uma foto das duas e uma imagem de são jorge à esquerda.
depois disso não se soube mais de ela nem de ELA.
ela não resistiu. mesmo não resistindo se conforta com alguma coisa que ainda nao tem nome. ELA? não se sabe mesmo. se ainda está totalmente com sua razao ou o coração faz dela um pouco mais ela.