sexta-feira, 27 de novembro de 2009

E se você descobrir que saltar do ônibus às pressas pode significar subir alguns degraus em você?


E assim lembro que arriscar é sinônimo de petiscar.

Tudo começa com um cardápio. Você o abre e procura um prato deliciosamente degustável. O nome não especifica o que seja, porém só pelo título, percebe-se que tem algum tempero especial.

Mas rotineiramente, pede-se o menu já conhecido pra não se dar o trabalho de perguntar ao garçon o que deve pedir.

Isso leva algum tempo. Muito tempo. Tanto tempo que o condicionamento de optar sempre pela mesma refeição incomoda quem está à sua volta. Sim, há amigos que tentam oferecer, não com muita frequência, um ou outro prato diferente, e a escolha é indiscutivelmente aquele código correspondente ao PF. No entanto, amigos são amigos e pensam sempre te conhecer intimamente quando na verdade não enxergam seu reflexo no prato. É porque o prato já não reflete mais, a comida esta intacta.

O prato ainda cheio, depois de quase duas horas sentado à mesa é constrangedor pro garçon. Ele sim, se preocupa com seu cliente e quer vê-lo satisfeito com seu serviço. Faz de tudo pra agradar, mostra o cardápio novamente, não cobra o valor total nem 10%, dá a sobremesa de cortesia, aconselha um prato...

Nesse exato momento, lá pela 00:00h, quando o expediente está quase encerrado ele aconselha aquele prato. Aquele prato com nome indecifrável, nada minucioso e com tempero especial. Internamente eufórico, sem qualquer alarde, faz-se o pedido 1305.

O tempo não passa, angustiante, o aroma chega até o salão e inebria quem está à sua espera.

A surpresa de ver a combinação perfeita é tanta que os talheres não cabem nas mãos, o guardanapo permanece ao lado do copo pela metade com água em temperatura ambiente.

Ao se deparar com aquela obra de arte esteve certo que ser comida era pouco, insuficiente. Ela deveria ser almejada, apreciada, degustada e devorada.

O enorme prazer proporcionado por aquele alimento, se refastelar, de ingerir, devorar, deglutir impressionava o serviçal que admirava boquiaberto aquele quadro. O constrangimento vinha agora do cliente bem servido que, quanto mais se alimentava, mais vontade tinha de sorver especiarias e nutrientes provindos daquele manjar e que quanto mais pressionava as mandíbulas de leve pra não destruir a obra de arte, mais ela crescia no prato de louça a sua frente.

O movimento da mesa até à boca acelerou as horas e todos estavam somente à espera do sujeito da mesa 05. Deveria ser rápido e pensar numa solução: embrulhar pra viagem. O pedido foi executado com sucesso, mas o homem, desprovido dos sentidos, desde o jantar, esqueceu sua marmita e pegou o primeiro ônibus que passava. Ele ainda estava com o pensamento no restaurante.

Destraído, ainda saboreando o que seu paladar acabara de provar, se deu conta de que nada tinha nas mãos. Salta do ônibus, ainda em movimento e corre exaustivamente ao encontro de seu embrulho.

O guardião previa sua volta e entrega-lhe o pacote.

Ele retorna à sua casa, sem ansiedade, sem a necessidade de querer, sem saber, o que decidir.

Sua aparência esquálida e sua visão turva despedem-se de seu corpo, dando lugar à vitalidade de um sorriso e à cumplicidade de um olhar. Genuínos.

E, mesmo que vez em quando, tenha dias como os costumeiros, de repetir pratos por preguiça, ele se pega petiscando os mais valiosos sabores da vida. Ele se rendeu, se pôs em risco pela vontade alheia. Sempre que acorda agradece ao funcionário, a descoberta apresentada.

Assim, ele descobriu que saltar do ônibus às pressas, o fez subir alguns degraus na vida.
***achei perdido no meu computador.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Formosa

Composição: Baden Powell / Vinicius de Moraes

Formosa, não faz assim
Carinho não é ruim
Mulher que nega
Não sabe não Tem uma coisa de menos
No seu coração
Formosa, não faz assim
Carinho não é ruim
Mulher que nega
Não sabe não
Tem uma coisa de menos
No seu coração

A gente nasce, a gente cresce
A gente quer amar Mulher que nega
Nega o que não é para negar
A gente pega, a gente entrega
A gente quer morrer
Ninguém tem nada de bom sem sofrer
Formosa mulher!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Desde que o Samba é Samba

QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA

A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite, a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite e a chuva que cai lá fora
Solidão apavoraTudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou

O samba não vai morrer
Veja o dia ainda não raiou

O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor

O grande poder transformador

Merci

diga obrigada. agradeça. faça um sinal com a cabeça. acene com a mão direita. faça papo-firme, assim com o dedão levantado. pisque o olho. faça jus ao que se teve e pronto, pode ir feliz, sem dever nada. mais que saber que doou, reconheça o que aprendeu e não guarde só pra si. não se deixe pensar inadimplente ou desrespeitoso. não perca o tempo de dizer o quanto valeu. não ache que está tarde demais para isso, nem ache que só pensar e saber é suficiente para o outro acreditar. e assim foi criada a luz e sem perceber todos ficaram cegos porque a lua deixou de existir e ninguém mais olhava para a mesma direção, o pobre do cãozinho não tinha pra quem uivar. ninguém disse nada e até hoje procuramos onde pousar os olhos e acabamos como mariposas atraídos para a lâmpada. e ninguém disse nada. e a lua atrás de uma resposta para sua recusa.
cada um com sua lua enquanto a verdadeira, lá fora, muda constantemente de nova, crescente, minguante e cheia para que a percebam. só quando ela explode de tão cheia com são jorge matando o dragão é que ela surge esplêndida no céu.
foi a gente, que deixou de ver além e acha que o ilimitado céu pode ser trocado com uma lâmpada queimada.
"tenho uma dor travada na minha fronte"
Valsa nº ¨6, Nelson Rodrigues

já não me permito tanto tempo pra chorar por uma dor que não deveria existir com tanta intensidade. sei que as palavras se traem, mais que os sentimentos. que elas desdizem o que se sente e os fatos consumados.
porque a previsibilidade é a palavra de ordem, e essa não se trai quando vem de mim. aliás, só sei do que vem de mim, pois sou eu que sinto e não me traio, por isso não sou previsível.
mas é vida que segue, ainda torta, mas seu caminho se faz necessário.
é a infinidade com ponto final bem cravado com caneta de ponta fina no meio do peito.

verbete

*mangedoura: expressão usada para definir indignação, temor, apavoramento. coletivo de jesus, maria, josé e/ou jesusmariajose. interjeição. definição sobre algo escabroso ou inesperado. também pode ser definido como o lugar de reunião de tres reis magos, as ovelhas, vaquinhas, maria, jose, e o menino jesus, a estrela cadente, etc... vulgo presépio.

neologista: Jon A. A.
definição: Andy C.A.S.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sobre o tempo

sobre o tempo clima. esse que faz calor demais, com um sol de queimar as solas dos pés, de um bafo de baixo pra cima, de um cólica de dentro pra fora, de pensamentos do centro pras beiradas.

é um calor só de vários outros e da cabeça que não esfria.

sábado, 7 de novembro de 2009

sempre que olho à minha esquerda quando estou no computador do quarto - que também foi meu um dia - vejo uma luz acesa, um pouco mais alta que a minha janela, do outro lado da rua. há, no mínimo, 10 anos que ela está assim. é o vizinho da frente - um dia ele me deu um livro com uma das dedicatórias mais impactantes que já recebi, dizia alguma coisa sobre genuinidade. e desde então uso essa palavra sempre que posso: genuíno, genuinidade.
mas essa luz, que me faz ver sua estante cheia de livros, permanece acesa apesar de. não sei se ele não dorme, se ele deixa a luz acesa só pra dizer que está acordado, mesmo que já esteja dormindo, se ele esqueceu acesa (e isso seria muita coincidência. todos os dias?). a impressão que dá é que ele está sempre por lá e por aqui de certa forma. até por que, quando falta luz na rua e a lâmpada não pode estar ligada, ela é substituída pela figura dele na sacada, com seu inseparável carlton vermelho. noutro dia eu vi só a brasa do cigarro dançando no ar.
eu costumava passar muitas das minhas madrugadas em sua companhia, compartilhando cinzeiros, literatura e segredos sabidos por todo mundo, tanto de um como de outro, mas que, os meus, ouvidos por ele, passavam a ter outro significado.
vou voltar lá dia desses pra fazer mais porque faz bem. basta atravessar a rua com meu chaveiro na mão e todas as novidades de todos esses 4 ou 5 anos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


E agora chegara o momento de decidir se continuaria ou não vendo Ulisses. Em súbita revolta ela não quis aprender o que ele pacientemente parecia querer ensinar e ela mesma aprender — revoltava-se sobretudo porque aquela não era para ela época de "meditação" que de súbito parecia ridícula: estava vibrando em puro desejo como lhe acontecia antes e depois da menstruação. Mas era como se ele quisesse que ela aprendesse a andar com as próprias pernas e só então, preparada para a liberdade por Ulisses, ela fosse dele — o que é que ele queria dela, além de tranqüilamente desejá-la? No começo Lóri enganara-se e pensara que Ulisses queria lhe transmitir algumas coisas das aulas de filosofia mas ele disse: 'não é de filosofia que você está precisando, se fosse seria fácil: você assistiria às minhas aulas como ouvinte e eu conversaria com você em outros termos'



* Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector

hoje eu mandei fazer três óculos pra mim. um de grau, laranja; um escuro, com lente degradé, no estilo clássico e outro, escuros, no estilo meio K-9. lembra do K-9, aquele cachorro policial de um filme do mesmo título? aqueles óculos que parecem de ceguinho de antigamente qua anda batento com a varetinha pra todos os lados pra não desviar da calçada do benjamim constant, então, foi esse.
hoje eu fiz muitas coisas, dentre elas, suar bastante, desde que pensava em acordar. isso preencheu todo o meu dia e acho que não vai parar até chegar o inverno ou quando esse tempo der uma trégua. acontece que tive novamente uma vontade súbita de cantar... sim, eu tenho esse desejo há muito tempo: entrar no ônibus ouvindo uma música que eu amo, qualquer uma delas, e que eu saiba de cor. sentar mais ou menos no meio do ônibus e, de repente, ir até à roleta começar a cantar bem alto, do jeito que só eu sei: grave e desafinado, mas sentindo cada letra e silêncio entre as palavras e a melodia.
as pessoas poderiam cantar comigo sem que eu insistisse e com o embalo, pudessem levantar os braços e fazer movimentos de um lado pro outro, como se eu tivesse acertado na trilha sonora daquele momento da vida de cada um.
vou pegar os meus óculos na sexta. acho que vou usar um deles pra realizar o desejo de cantar uma música ao acaso, mesmo que eu não saiba de cor, mas apenas poucas partes ou apenas resmungar uns sons que digam respeito ao que sinto quando ouço àquelas palavras cantadas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

das coisas

é de lembrar com saudades da infância inocente e ingênua que ainda carrego comigo nos momentos de fragilidade. da lembrança doce e macia dos seus pés quadrados nos meus quando dormíamos e quando acordados brincavam de tirar o lençol de cima deles num dia de calor. do colo suave e seguro quando estava cansada e conversando sobre amenidades do dia e dos lanches lights à noite e das conversas sobre projetos de vida - de todas que nos compete - que só não dariam certo se não quiséssemos. da intimidade limitada até a individualidade da outra e do amor gratuito e sincero que o tempo ensinou. das confissões e declarações de amor quando a outra dormia pra que o sono pudesse transformá-las em realidade nos dias seguintes. do anseio pela renovação de tudo e da vontade de aguentar os trancos que estamos passíveis, as agruras do tempo que só fortificavam o que ela tentava podar.
a gente tem tantas coisas e das coisas que não dá pra dizer assim.
são tantas que fazem uma infinidade. uma infinidade com um ponto final. isso existe.

tenho urgência pra vida, pros sentimentos e quereres intensos e provocativos, mas não tenho tempo pra eles. o tempo se mede em minutos fora do meu compasso e muitas das vezes ele é devagar demais. urge, o tempo pra isso.

ando composta de urgências.

Amigos

eu tenho alguns poucos amigos de verdade, mesmo. daqueles que a gente pode contar em momentos de caos. eles variam entre aqueles que te abraçam pra acalmar ou vibrar com você. eu gosto de abraço, muito, daqueles fortes que enlaçam o corpo. tenho aqueles que cedem tudo e mais um pouco da casa da comida do banheiro da roupa emprestada da louça e os infindáveis papos pela madrugada a dentro que são interrompidos pela obrigação do dia seguinte. aqueles que são de carne e osso mas que as visitas são diárias pelo msn; tenho aguns modelos deles, uns que são diurnos e outros que preenchem quando outros vão dormir. aqueles que oferecem o dedo e a gente pega a mão, o braço o corpo todo. aqueles que foram casos antigos que fazem parte da expectativa que como seria a vida hoje. a amiga irmã, a amiga mãe. a família de outros que se tornam amigos mesmo que os outros não façam mais parte da gente. esses são todos concretos.
e tenho os amigos invisíveis, a intuição que é sempre a melhor amiga e prova de que devemos confiar cegamente nela, mesmo que ela não tenha forma física e que muitas vezes mostre o que não queremos ver, mas precisamos. tem aquele amigo que é seu interlocutor quando você fala sozinha só pra desabafar, e ele não fala nada, só faz sua voz parar onde é o limite do sentimento.
tem os melhores amigos que dizem a verdade na sua cara e que você é bonita, inteligente e que vai se dar muito bem na vida.
eu acho que tenho os melhores amigos do mundo e todos eles sabem de quem estou falando.

domingo, 1 de novembro de 2009

Às estrelas

Sempre soube que existia, mas nuca tinha lido. Eu nasci, no dia 14 de março de 1983 e logo depois meu pai mandou fazer um mapa astral daquela criança nascida com 51 cm e 3kg e 650 gr. Eu li ontem, à noite, com minha mãe no quintal onde cresci a vida inteira até meus 19 anos. Depois de 26 anos e muitos meses eu li o que as estrelas diziam sobre mim, e não é que elas estavam certas? É um mapa escrito à mão, com todos os planetas e signos bem desenhados que conseguem fazer uma geral na vida de alguém que mal sabe quem é... Será verdade que as estrelas dizem a verdade desde sempre? Será que a mais brilhante é aquela que se pode fazer um pedido e realizá-lo? E será que elas já sabiam dos pedidos pedidos e por isso a gente pede à elas? Será que é verdade que nascem verrugas quando contamos estrelas apontando pra elas? Será que a estrela do mar foi uma estrela que caiu do céu porque se apaixonou?
Eu tenho uma estrela tatuada no meu tornozelo direito. Sim, só o contorno dela. Será que essa estrela veio pra terra pra significar alguma coisa? Até acho que sim! No meu mapa diz que o que me move é água e fogo (porque sou de peixes e meu ascendente é áries, além da minha lua ser peixes também.. aff) e que existe uma carência de ar e terra. Eu acho que essa estrela na terra que me faltava. De pé no chão.

Essa estrela desde sempre foi pra colocar meu pé no chão. Ela estava quase subindo pro céu, mas agora está de volta comigo.